A Crise do Capitalismo – 1929
“Dificuldades financeiras nos Estados Unidos provocam venda do Banco Merrill para o Bank of América.” (Folha 15/9/2008)
“4º maior banco dos Estados Unidos, anuncia falência” (Jornal Folha de São Paulo em 15/9/2008).
“Notícias de falências provocam fortes perdas nas Bolsas de Valores no mundo” (Jornal Estado de São Paulo 15/9/2008).
“O governo dos EUA tenta amenizar a crise fornecendo financiamento aos bancos em dificuldades”. (Jornal A Tarde 14/9/2008).
"Devemos reconhecer que isso (a crise) é um evento que acontece uma vez a cada meio século" (Alan Greenspan, ex-presidente do Banco Central dos Estados Unidos, em entrevista e rede de televisão ABC em setembro de 2008).
As manchetes e as charges acima extraídas de alguns jornais são atualíssimas e parecem ter relação com o fato que aconteceu em 1929. Em parte têm mesmo. As crises no sistema capitalista são eventuais e podemos graduá-las em leves, médias e fortes. O Modo de Produção Capitalista não é perfeito, aliás nenhum é, mas para começo de conversa o que vem a ser Modo de Produção? De forma bastante aligeirada podemos sintetizar este conceito como a forma na qual determinada sociedade organiza sua força produtiva e as suas relações de produção. Por exemplo no capitalismo as relações de produção caracterizam-se pelo trabalho assalariado e pela propriedade privada dos meios de produção. Os trabalhadores vendem sua força de trabalho para receber o "salário". O capitalista (burguês) que detém os meios para produzir algo compra a força de trabalho. O capitalismo é movido pelo lucro e suas duas principais classes socias são a buguesia e os trabalhadores assalariados. A economia deve ser regulada pela "mão invísivel do mercado" a chamada lei da oferta e da procura. O governo não deve interferir na economia. Deixa que o mercado resolve. Será???
A maior potência econômica da atualidade, os Estados Unidos são a referência dos migrantes do planeta em busca de oportunidades de trabalho e melhoria do padrão de vida. Contudo nem tudo são flores, pois milhões que lá vivem não desfrutam de condições satisfatórias de vida. Segundo o Censo de 2003 cerca de 12,5 por cento da população viviam abaixo da linha da pobreza. A imagem dos Estados Unidos como terra das oportunidades se formou na década de 20 do século pasado, disseminada pelo mundo através da propaganda e dos filmes de Hollywood. O “american way life” ou o estilo de vida dos Estados Unidos foi exportado como modelo ideal de sociedade a ser seguido pelos demais paises. Entretanto nem sempre a realidade corresponde à imagem e o sonho torna-se um pesadelo.
Para entender o processo da recessão econômica, conhecida como a Grande Depressão que abateu os EUA em 1929 e por tabela as demais economias do planeta é necessário retomarmos alguns pontos e associarmos as peças do quebra-cabeça.
O termino da 1ª Guerra. As nações européias saíram da 1ª Guerra Mundial com suas economias destruídas. Os Estados Unidos muito pelo contrário, conseguiram obter lucros fantásticos aumentando sua riqueza em 250 vezes. A economia foi alavancada pela exportação de armamentos, alimentos e produtos industrializados aos paises em guerra. Ao termino do conflito além dos créditos com o comércio possuíam um considerável valor em empréstimos aos governos europeus.
Os anos 20. A expansão da riqueza dos Estados Unidos, o chamado PIB - Produto Interno Bruto, Opa!! Qual o conceito de PIB? Corresponde ao valor total dos bens (produtos e serviços) produzidos por um país em um determinado período. Então, voltemos ao ponto em que paramos. O PIB dos EUA obteve um crescimento acelerado e vertiginoso. A produção industrial alcançou elevados picos de vendas. O modelo de produção em linha de montagem trazia rapidez, eficiência e baixo custo aos produtos. Aliado as facilidades ao crédito o cidadão poderia através de empréstimos comprar imóveis e bens duráveis (automóveis, eletrodomésticos, aparelhos de rádio, etc). Estimulados pela propaganda consumista o ritmo de compras era frenético. Mercado aquecido, expectativa de consumo crescente e valorização das empresas que tendem a sinalizar para investimentos em títulos (ações) na bolsa de valores. Muitos cidadãos vislumbraram a possibilidade de obterem lucros altos e imediatos investindo suas economia em ações.
O Efeito Dominó: A quebra da Bolsa de Nova York foi uma sucessão de acontecimentos desastrosos. Passados alguns anos do final da Primeira Guerra mundial, as economias das nações européias emitem sinais de recuperação, a partir da diminuição das importações de produtos agrícolas e industriais, principalmente dos EUA. Fato que levou a falência milhares de agricultores nos EUA. Apesar disto grandes empresas mantiveram o ritmo de produção em alta. As vésperas dos anos 30 a situação agrava-se e na chamada quinta-feira negra de Outubro de 1929 acontece o pior, a quebra ou “Crack” da Bolsa de Nova York.
Como foi este processo? Em linhas gerais podemos explicar a quebra da bolsa a partir do seguinte aspecto. Na situação de euforia que se encontrava a economia, era comum as empresas emitirem títulos negociáveis (ações) em bolsa de valores. Considerando a expectativa de lucro com a alta nas vendas dos produtos destas empresas, o mercado financeiro compra estes títulos (ações) acreditando obter lucros altos e rápidos. Porem este é um terreno pantanoso e sem as devidas cautelas podem trazer perdas financeiras irreparáveis. Foi o que aconteceu quando o excesso de produtos (superprodução) sem a devida demanda (expectativa de compra) provocam o desequilíbrio na economia. A oferta em demasia acumulou grandes estoques que não encontravam compradores fazendo os produtos encalharem nas prateleiras. O “efeito dominó” se processa, pois sem consumo não existe venda, conseqüentemente não gera receita (dinheiro). A possibilidade de lucro desaparece e o fantasma da falência torna-se real. O temor por maiores perdas leva os investidores a negociarem as ações das empresas vendendo-as na bolsa de valores. A venda contínua e sistêmica das ações de uma empresa provoca a diminuição do seu valor de mercado e indica a desconfiança dos investidores. Este ciclo macabro termina por respingar na ofertas de empregos, pois com a diminuição nas vendas os postos de trabalho são reduzidos, significando desemprego. Enfim os efeitos da crise espalham por todos os setores da economia mundial e repercutem principalmente nos paises capitalistas exportadores de produtos agrícolas, como o café do Brasil (Lembram quando estudamos a Revolução de 1930 - predecessora da Era Vargas? Pois é, os efeitos da crise ajudaram a derrubar a república do café). Exceto na União Soviética cujo o modo de produção era no Sistema Socialista com economia planificada e sem economia de mercado a crise assolou os paises capitalistas, o desemprego é alarmante nos Estados Unidos com 15 milhões de desempregados e falências generalizadas no campo e nas cidades. Na Europa a Alemanha é afetada por uma gravíssima crise com 6 milhões de desempregados, inflação, fome e miséria. O governo vem em socorro a ecomonia de mercado dos capitalistas (ops!!)financiando o sistema a fim de diminuir os efeitos da crise, criando frentes de trabalho na execução de obras públicas. A esta intervenção do governo na economia dos Estados Unidos para combater a crise chamou-se de o “New Deal” ou Novo Acordo ocorreu no governo do presidente Franklin Roosevelt. Ops!! Mas, segundo as assertivas dos economistas capitalistas que estão no ínicio deste assunto, não seria a lei da oferta e da procura que regularia as relações econômicas?? O governo não deve intervir na economia e deixar a mão invisível do mercado atuar livremente?? O Tesouro dos EUA (o ministério da Fazenda deles) em fevereiro de 2009 desembolsou US$ 2 Trilhões para socorrer bancos e empresas. Acredito que agora entendem a afirmação de que nenhum modo de produção é perfeito.
A crise de 1929: uma crise econômica e financeira devido à superprodução
A Primeira Guerra Mundial desviou o poder econômico da Europa para os Estados Unidos. A destruição da Europa possibilitou aos EUA; emergir como a maior potência mundial e maior credor dos países europeus.
De 1922 a 1929, a população norte-americana gozou de uma grande opulência, evidenciando um melhor padrão de vida, denominado (American Way of Life) (modo americano de vida). Em cada seis pessoas, uma possuía automóvel; havia treze milhões de rádios nos lares norte-americanos e mais telefones do que em todo o resto do mundo. Além disso, era notável a diferença de salários entre os operários dos EUA e os da Europa.
A confiança no crescimento econômico sem limites levou a população a consumir cada vez mais.
A onda de desenvolvimento norte-americano levou ainda a uma febre incontrolável de especulação com ações. Nesse ambiente de prosperidade, as pessoas, que ignoravam a superprodução e a carência de mercados, eram levadas pelos especuladores a investir no mercado de ações.
No entanto, este quadro não era de saúde financeira, contrastando com a retração econômica mundial que dominava o pós-guerra. O crescimento da produção norte-americana não era acompanhado por um crescimento da demanda interna e externa.
O rendimento da classe assalariada não acompanhava o crescimento do valor dos bens de consumo. Os empréstimos concedidos a Europa foram, em sua maioria, imobilizados na reconstrução do pals. e menos no consumo de produtos norte-americanos. Na Europa reconstruída, retomou-se a atividade produtiva para reduzir o consumo de produtos norte-americanos. Somando-se a esse quadro pós-guerra, não havia permissão para a expansão dos mercados.
Em 24 de outubro de 1929, na Quinta-Feira Negra, a alta desvalorização das ações mais nobres da bolsa determinou o Crach da Bolsa de Nova York, e com ele a ruina de milhares de investidores. Os reflexos da crise de 29, nos Estados Unidos, foram graves e imediatas:
· falências bancarias e consequente quebra dos setores de produção;
· entesouramento do ouro e paralisia dos mecanismos de investimento;
· aumento dos estoques e vertiginosa queda dos preços, em particular no setor agrícola;
· predomínio de um clima de inquietação e pessimismo;
· desemprego e consequente diminuição do consumo.
O New Deal: uma tentativa de redução da crise
A desarticulação econômico-financeira representou um enorme desafio para as lideranças politicas norte-americanas. Em 1932, Franklin Roosevelt, presidente eleito pelo Partido Democrata, realizou drásticas mudanças na vida americana. Auxiliado pelo economista inglês John Maynard Keynes, Roosevelt lançou um piano de assistência e recuperação econômica do pals., o New Deal, com os seguintes itens essenciais:
· Proibição do entesouramento e da exportação do ouro;
· Diminuição da jornada de trabalho para poder empregar um maior numero de pessoas;
· Emissão de dólares para financiar grandes empreendimentos;
· Lei de recuperação industrial em defesa da otimização de setores produtivos e empregos;
· Lei de ajustamento da agricultura, que defendeu a racionalização da produção agrícola, condicionado—a as necessidades do mercado;
· Lei de segurança social, que estabeleceu seguro contra o desemprego, aposentadoria e auxilio aos inválidos;
· Lei do Vale Tennessee, que criou um órgão com a finalidade de planejar o pleno desenvolvimento dos recursos naturais do vale.
O New Deal significou uma importante ruptura, tanto no pensamento econômico quanto nas politicas econômicas estatais. As ideias de Keynes, traduzidas no piano, resumiam-se na necessidade de uma regulamentação dos mercados e da participação do Estado na economia. Ou seja, reagiam contra a clássica concepção liberal — definida por Adam Smith — que entregava aos próprios mecanismos de mercado a função de sanear os desequilíbrios nas atividades econômicas.
A expansão da crise: a Grande Depressão
Entre 1929 e 1933, a desorganização econômico-financeira dos EUA repercutiu internacionalmente te, ocasionando a Grande Depressão.
A fragilidade que caracterizava a economia mundial, na década de 192o, acentuou os reflexos da crise norte-americana pelo mundo. Após atingir mais profundamente a economia dos EUA, a Grande Depressão espalhou-se pela Europa e países da América Latina, Ásia e África.
Os empréstimos e os investimentos norte-americanos para os países europeus cessaram. O comércio mundial reduziu-se a metade, levando a falências bancarias e industriais.
O desemprego cresceu vertiginosamente. A consequência foi o surgimento das passeatas contra a fome e das filas de sopa.
A crise monetária impôs o abandono do padrão-ouro e a desvalorização das moedas, principalmente das que dependiam da libra e do dólar.
A União Soviética, ao contrário do resto do mundo, não sofreu os efeitos da crise, uma vez que iniciava uma fase de planificação estatal de sua economia, estruturando-se em bases socialistas.
A Grande Depressão determinou uma mudança da politica econômica estatal. Para atenuar a crise, desenvolveu-se, nos países capitalistas:
· Uma politica de estimulo a economia interna e de incentivo as obras publicas (setor não produtivo);
· A desvalorização das moedas com o objetivo de reativar as exportações;
· Uma politica econômica protecionista que reduziu ainda mais o nível de comércio mundial;
· Uma politica de rearmamento, com objetivo imperialista, que atenuava o desemprego na Europa;
· Uma politica de desenvolvimento da indústria, nos países da América Latina e Ásia, para substituir as importações em baixa e superar a tradição agroexportadora.
1) Indique três fatores responsáveis pela Crise de 1929 nos Estados Unidos.
2) Explique o papel de John Mennard Keynes no encaminhamento de meios para atenuar a Crise de 1929.
3) O que foi a Quinta-Feira Negra e o New Deal ?
4) Quais mudanças foram significativas na Grande Depressão?
5) Qual foi o grande país menos afetado pela Crise de 1929 e o país mais afetado?